Consumo
de maconha aumenta o risco de psicose em jovens, indica estudo
por
Danilo Baltieri
"Nesse estudo, durante 10 anos, os
pesquisadores acompanharam 1923 indivíduos da população geral da Alemanha,
entre 14 e 24 anos de idade, sem história prévia de quadros psicóticos ou mesmo
uso de maconha. Aqueles que iniciaram o consumo de maconha durante o estudo
apresentaram risco cerca de duas vezes maior de apresentar sintomas psicóticos
do que aqueles que permaneceram livres da maconha"
No
texto anterior comentei um recente estudo sobre a relação entre o consumo de
maconha e esquizofrenia - clique aqui e leia. Agora irei comentar um recente
estudo sobre a relação entre o consumo de maconha e psicose.
Comentários
O
uso de maconha entre adolescentes e adultos jovens pode disparar o surgimento
de sintomas psicóticos, semelhantes a quadros esquizofrênicos. O uso continuado
da droga pode, de fato, aumentar o risco da instalação de transtornos
psicóticos persistentes, conforme atesta recente estudo aprovado pela
prestigiada revista British Medical Journal.
Pessoas
jovens devem saber que fumar maconha pode ser bastante nocivo para a sua saúde
mental (e também física), ao contrário do que muitos dos próprios adolescentes
e adultos jovens (e, às vezes, não tão jovens) pensam.
Jovens
com menos de 16 anos que iniciam o consumo de maconha (na forma fumada) parecem
ter um risco maior para problemas comportamentais futuros. Essa fração da
população jovem que fuma maconha frequentemente tende a manter o consumo por
tempo mais prolongado.
Vários
estudos prévios já tinham reportado o maior risco de sintomas psicóticos entre
usuários da droga. Esse atual estudo demonstra que, em uma percentagem não
negligenciável, o consumo de maconha precede o surgimento de quadros
psicóticos.
Nesse
estudo, durante 10 anos, os pesquisadores acompanharam 1923 indivíduos da
população geral da Alemanha, entre 14 e 24 anos de idade, sem história prévia
de quadros psicóticos ou mesmo uso de maconha. Aqueles que iniciaram o consumo
de maconha durante o estudo apresentaram risco cerca de duas vezes maior de
apresentar sintomas psicóticos do que aqueles que permaneceram livres da
maconha. Esse fato foi mantido, mesmo após os pesquisadores controlarem os
efeitos de outras variáveis que podiam confundir os resultados, como idade,
gênero, nível social, consumo de outras substâncias e outros problemas e
transtornos psiquiátricos.
A
taxa de incidência de sintomas psicóticos entre usuários de maconha foi de 30%
contra 20% entre não usuários, considerando o período desde o início do estudo
até 3,5 anos depois. Já no período entre 3,5 anos do início do estudo até 8,4
anos após, a taxa de incidência de sintomas psicóticos entre usuários de
maconha foi de 14% contra 8%, respectivamente.
É
importante destacar que os usuários de maconha que apresentaram sintomas
psicóticos e mesmo assim mantiveram o consumo da droga tiveram maior chance de
persistência desses sintomas do que aqueles usuários que deixaram de fumar
depois do surgimento dos ditos sintomas.
Esses
resultados indicam que o consumo de maconha aumenta o risco do surgimento de sintomas
psicóticos e que a manutenção do uso possibilita a manutenção desses sintomas.
Na minha prática clínica já presenciei alguns exemplos desses sintomas:
-
indivíduo usuário de maconha passa a acreditar que está sendo perseguido pelo
exército e, devido a essa crença, passa a vigiar a sua vizinhança. Todo
movimento dos vizinhos pode ser motivo para recrudescer a desconfiança.
-
indivíduo usuário de maconha vai a um show de música e acredita que o músico no
palco enviou uma mensagem para ele através do olhar. O usuário corre para a sua
casa, bastante agitado, e diz para a sua mãe que algumas pessoas têm muito
poder sobre a sua vida. Como sua mãe percebe um comportamento não usual, fica
bastante preocupada e tenta acalmar seu filho sem muito sucesso.
Biologicamente
defensável
Os
autores do estudo explanam que o link entre consumo de maconha e sintomas
psicóticos é biologicamente defensável, já que um outro estudo demonstrou que o
uso intravenoso de tetra-hydro-canabinol (o princípio básico da maconha)
provocou tanto sintomas psicóticos ditos positivos (delírios, alucinações,
agitação psicomotora) quanto sintomas psicóticos ditos negativos (embotamento
afetivo, apatia, abulia) e de maneira dose-dependente tanto entre pessoas
normais quanto entre portadoras da doença esquizofrenia.
O
desafio do estudo, segundo os pesquisadores, é convencer os jovens sobre esses
riscos, diminuindo a incidência de novos usuários.
A
referência para esse estudo é:
Rebecca Kuepper, Jim
van Os, Roselind Lieb, Hans-Ulrich Wittchen, Michael Höfler, Cécile Henquet.
Continued cannabis use and risk of incidence and persistence of psychotic
symptoms: 10 year follow-up cohort study. British
Medical Journal, 2011.
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