terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

É fato que a maconha pode ter aplicações terapêuticas?

Drauzio - É fato que a maconha pode ter aplicações terapêuticas?
Anthony Wong – Tempos atrás se defendeu a aplicação terapêutica da maconha. Ela ajudava a diminuir a pressão do globo ocular dolorosa nos casos de glaucoma e acalmava os vômitos que se seguiam às aplicações de quimioterapia. Nos últimos anos, porém, a indústria farmacêutica lançou no mercado vários medicamentos que, além de efeitos clínicos superiores aos da Cannabis sativa, apresentam a vantagem de não criar dependência nem provocar lesões neurológicas.
Na Califórnia (EUA), por exemplo, era permitida a prescrição da maconha para fins terapêuticos. No entanto, diante das evidências levantadas por grupos de pesquisa norte-americanos respeitados mundialmente, que não conseguiram comprovar a presença de uma substância com tais poderes, a Suprema Corte Americana cassou essa autorização.

Drauzio - Quanto tempo dura o efeito da maconha?
Anthony Wong - Isso é difícil de mensurar porque varia de indivíduo para indivíduo. No caso dos pilotos, durou mais de doze horas. Imagina-se que o efeito sedativo e o alucinógeno durem talvez uma hora ou duas. No entanto, há relatos de que já tenha durado perto de três ou quatro horas.
É interessante destacar que o mesmo cigarro de maconha fumado por várias pessoas provoca reações diferentes em cada uma delas. Apesar do teor de THC presente na droga ser o mesmo, algumas nada sentem. Tal evidência nos obriga a admitir a influência da sensibilidade pessoal na duração e intensidade do efeito. Talvez essa constatação permita explicar certas alterações de comportamento nos casos em que a substância alucinógena não foi identificada na droga.

Drauzio - Hoje é comum encontrar usuários saudosistas que se referem à maconha como produto de melhor qualidade no passado. Isso tem alguma relação com a capacidade de tolerância do indivíduo?
Anthony Wong – Todas as drogas que agem sobre o sistema nervoso central acabam desenvolvendo uma capacidade de tolerância a seus efeitos farmacológicos. É importante lembrar que há alguns anos a maconha era de fato proibida. Maconheiro era palavra pesada, equivalente a seqüestrador ou estuprador nos dias atuais. Hoje, porém, numa festa de jovens, quem não fuma maconha é quadrado ou está fora de sintonia com o resto do grupo. Isso me leva a pensar que a proibição, a ilegalidade, a não aceitação social, davam mais sabor ao consumo da maconha.

Drauzio - Nos Estados Unidos, foi constatado aumento no teor de THC nos últimos anos. No entanto, ”maconheiros” desde a década de 1960 afirmam que naquele tempo, sim, a droga era boa, embora a concentração de THC fosse menor. O efeito das doses iniciais é mais forte?
Anthony Wong – Pessoalmente, acredito que a droga do passado parecia melhor por duas razões diferentes. Uma é a taquifilaxia, ou seja, a resistência adquirida aos efeitos da droga requer que o usuário exija doses com concentrações maiores de seu elemento ativo. O outro é o fato de a ilegalidade tornar mais atraente o consumo.
Estabelecer distinção entre eles é tarefa bastante difícil, mas vários estudos mostram que o efeito psicológico tem grande peso no momento do consumo. Quando se é jovem, tudo é novidade e as experiências adquirem sabor especial. Talvez, por isso, a droga do passado parecia melhor.


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